sexta-feira, 21 de julho de 2017

Chernobyl brasileiro ?



fonte: Google imagens

No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu. o famoso acidente  na usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de Hiroshima e Nagasaki. Ainda hoje a região e sobreviventes sentem os efeitos da radiação. E claro como todo grande desastre rendeu a industria do cinema alguns filmes, alguns trashs de ficção, e um emocionante documentario no ano de 2016 intitulado VOICES FROM CHERNOBYL,  o documentário não trata do desastre de Chernobyl em si, mas sim analisa como o acontecimento afetou de fato a vida das pessoas. São apresentados relatos de testemunhas que sobreviveram, como cientistas, professores, jornalistas, casais e crianças, que falam como era a rotina de suas antigas vidas diárias que, em seguida, foi transformada pela catástrofe. Mas agora vem um fato curioso, você sabia que no Brasil, em Goiânia interior do estado de Goiás, aconteceu um desastre envolvendo radioatividade, um dos maiores acidentes radiológicos do mundo?

Césio 137: O pesadelo que chocou o Brasil


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Em 29 de setembro de 1987. Foi descoberto um dos maiores acidente radiológico do mundo segundo o site oficial. A data está marcada não apenas na história, mas principalmente na memória dos goianos como um dos momentos mais trágicos. Um aparelho utilizado em radioterapias que estava abandonado nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), no centro de Goiânia foi encontrado por dois catadores de um ferro velho, pensando em ganhar dinheiro com a sucata. Wagner Mota Pereira e Roberto Santos Alves inocentemente levaram o aparelho que pesava aproximadamente 200 quilos para o ferro velho de Devair Alves Ferreira, na rua 57, no centro da capital.  A marretadas,  os dois desmontaram o aparelho que revestia a pequena cápsula que continha 19,26 gramas de césio 137.  

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O pó semelhante ao sal de cozinha, no escuro brilhava com uma cor azulada. Encantados com o mistério o dono do ferro velho começou a distribuí-lo com os parentes e amigos como se fosse algo precioso. Começava aí um drama com proporções incalculáveis. Logo nos primeiros dias quem teve contato direto com o Césio 137 começou a sentir tontura, náuseas,  vômitos e perda de cabelos. Sem perceber a relação dos sintomas com o manuseio da peça, o irmão de Devair, Ivo Alves Ferreira, morador do Setor Norte Ferroviário, foi conhecer o pó e levou fragmentos para casa e espalhou sobre a mesa. Sua filha caçula, Leide das Neves, de 6 anos de idade, vitima da inocência e da falta de informação, brincou com o Césio e depois comeu ovo com as mãos sujas, ingerindo fragmentos radioativos. Ela foi atingida com maior grau de contaminação.  Aumentava a cada dia a cadeia de radiação e contaminação do Césio 137.  Maria Gabriela, esposa de Devair, suspeitava que o pó brilhante era o causador de tudo e decidiu recolher a cápsula e levá-la à Vigilância Sanitária, no setor do Aeroporto. Ela expôs o drama ao veterinário Paulo Roberto Machado, que o pó misterioso estava adoecendo sua gente.
Deposito de materiais contaminados
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A notícia se espalhava e os efeitos do Césio 137 também. O fato foi amplamente divulgado na imprensa nacional e internacional. O clima em Goiânia era de  apreensão e pânico. Erroneamente Goiânia chegou a ser comparada com Chernobyl, na Rússia, onde um reator nuclear explodiu liberando gases altamente contaminados. O acidente de Chernobyl foi a  maior tragédia radioativa de toda a história.  O acidente com o Césio 137 em Goiânia, foi o maior acidente radiológico do mundo e por se tratar de pó, a extensão da contaminação foi controlada, resumindo aos focos e às pessoas afetadas. Médicos e enfermeiros não sabiam como agir com os pacientes contaminados. Em pouco tempo a cidade foi invadida por um exército de homens vestidos como astronautas. Eram os técnicos da CNEN-Comissão Nacional de Energia Nuclear, com roupas especiais, máscaras e munidos de um aparelhinho (contador Geiger), para  medir o grau de contaminação. Filas se formavam no Estádio Olímpico para medição. Quando o aparelhinho se aproximava de uma pessoa ou de algum objeto contaminado, exibia o grau e soava um apito temido por todos. As pessoas com maior grau de contaminação e os locais atingidos foram isolados. Casas inteiras, carros, animais, árvores, enfim história de uma vida inteira em pouco tempo viraram montanhas de lixo radioativo. Tudo era acondicionado em contâineres que foram levados para o depósito em Abadia de Goiás.


Mas o que é césio 137 ?


O césio-137 é um isótopo radioativo (radioisótopo) do elemento químico césio (Cs), cujo número atômico (Z), isto é, a quantidade de prótons no núcleo atômico, é igual a 55, e o número de nêutrons é de 82. Assim, a denominação “césio-137” vem do seu número de massa (A), que corresponde à soma do número atômico com os nêutrons (55 + 82 = 137). Desse modo, sua representação é dada por: 
                                                       
                                                                              55137Cs
                                                                                             

Esse radioisótopo emite radiações de seu núcleo. Conforme mostrado a seguir, ele desintegra-se, liberando, por exemplo, radiação beta (-10β), com consequente formação de outro elemento radioativo ainda mais nocivo, o bário-137:

                                                        55137Cs → -10β + 56137Ba

O césio-137 é bastante perigoso para o ser humano porque emite partículas ionizantes e radiações eletromagnéticas capazes de atravessar vários materiais, incluindo a pele e os tecidos do corpo humano, interagindo com as moléculas do organismo e gerando efeitos devastadores. Essa interação ocorre porque, assim como ocorre com todos os isótopos radioativos, o Cs-137 emite radiações com energia suficiente para retirar elétrons dos átomos e dar origem a cátions (partículas com carga positiva), que são altamente reativos e, por sua vez, podem causar alterações em reações que ocorrem nas células dos tecidos vivos, alterando o DNA e podendo causar o aparecimento de células cancerígenas.

Documentário e filme


O filme Césio 137: O Pesadelo de Goiânia é um filme escrito e dirigido por Roberto Pires. O Roteiro foi baseado em depoimentos das próprias vítimas do acidente, um ótimo filme nacional mas pouco conhecido, Juntamente com o documentário voices from Chernobyl são a dica de hoje do breaking the chemistry  para os químicos cinéfilos de plantão. 


fontes:
http://brasilescola.uol.com.br/historia/chernobyl-acidente-nuclear.html
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-246720/
http://www.cesio137goiania.go.gov.br/index.php?idEditoria=9782
http://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-cesio-137.html

Licenciando Em Química, Aficionado Pela Sétima Arte.

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